O Custo do Discipulado Radical em Lucas 9:59-62
No Evangelho de Lucas 9:59-62, Jesus faz declarações que mostram a seriedade e o custo de seguir a Ele. Nesse trecho, Jesus chama algumas pessoas para serem seus seguidores, mas as respostas dessas pessoas mostram que elas têm outras prioridades.
As palavras de Jesus podem parecer duras, pois Ele parece colocar condições que desafiam as regras culturais e até mesmo as responsabilidades familiares da época. Essa passagem tem sido muito comentada por estudiosos, que tentam entender o que Jesus quis dizer e a mensagem que Ele queria transmitir sobre o compromisso com o Reino de Deus.

O texto fala de três situações específicas em que Jesus convida algumas pessoas para segui-lo. No primeiro caso, Jesus diz a um homem para segui-lo, mas o homem responde que precisa “primeiro sepultar o seu pai.” A resposta de Jesus é clara: “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus” (Lucas 9:60). Essa resposta pode parecer estranha, pois na cultura judaica cuidar do funeral dos pais era uma obrigação sagrada. Segundo o teólogo William Barclay, Jesus não estava desrespeitando essa tradição, mas estava mostrando que o Reino de Deus deve ser a prioridade máxima. Para Barclay, o ponto principal é que o chamado para seguir Jesus é tão importante que nada mais deve ser colocado à frente.
Outro estudioso, David Guzik, sugere que a frase “deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos” pode ser entendida de forma simbólica. Ele explica que Jesus estava falando de pessoas que, embora vivas fisicamente, estavam “mortas” espiritualmente. Essas pessoas poderiam cuidar das obrigações comuns, enquanto os seguidores de Jesus tinham uma missão mais urgente: anunciar o Reino de Deus. Guzik destaca que Jesus estava deixando claro que os seus seguidores precisavam ter um foco especial na missão divina, sem se prender às preocupações terrenas.
No segundo caso, outra pessoa se oferece para seguir Jesus, mas pede para “primeiro voltar e despedir-me da minha família.” Mais uma vez, a resposta de Jesus é firme: “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lucas 9:62). Craig Keener explica que essa imagem do arado é usada para mostrar a necessidade de estar concentrado. Quando alguém está arando a terra, é preciso olhar para frente para fazer uma linha reta; se olhar para trás, a linha sai torta. Da mesma forma, quem quer seguir Jesus precisa deixar para trás as distrações e compromissos antigos para se concentrar no que está à frente.
As palavras de Jesus em Lucas 9:59-62 mostram que Ele queria que seus seguidores estivessem totalmente comprometidos com a sua missão. Para o teólogo Dietrich Bonhoeffer, isso significa que “quando Cristo chama uma pessoa, Ele a chama para se entregar completamente.” Bonhoeffer argumenta que seguir Jesus envolve deixar para trás qualquer coisa que possa tirar o lugar que Cristo deve ocupar na vida do discípulo, mesmo que isso inclua coisas que sejam muito importantes para nós.
Esse ensinamento de Jesus desafia a ideia de que é possível segui-lo sem abrir mão de algumas prioridades. F. F. Bruce, outro estudioso, observa que Jesus não estava dizendo que as responsabilidades familiares não eram importantes, mas que o chamado de Deus exige uma decisão rápida e determinada. Para Bruce, seguir Jesus não pode ser feito pela metade; é preciso estar completamente comprometido com a missão de Cristo.
Em resumo, Lucas 9:59-62 nos apresenta um chamado ao discipulado que é tanto sério quanto urgente. Jesus não estava simplesmente ignorando as responsabilidades normais da vida, mas estava mostrando que seguir a Deus é a coisa mais importante que uma pessoa pode fazer. Para ser um verdadeiro discípulo, é necessário estar disposto a deixar para trás tudo o que pode atrapalhar a missão, sejam compromissos culturais, laços familiares ou objetivos pessoais. O compromisso com Cristo deve ser total, e essa é a principal mensagem que Jesus estava transmitindo para quem queria segui-lo.
Esse ensinamento nos leva a pensar sobre nossas próprias escolhas e sobre o que estamos dispostos a abrir mão para seguir a Jesus. O custo de ser um discípulo é alto, mas, como Bonhoeffer destaca, essa entrega total é o caminho para a verdadeira vida no Reino de Deus.